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Uma solução de engenheiro para o clima

Enquanto os mandatários discutem em Nova York, reflitamos sobre dois planos práticos para equacionar com realismo o impacto das mudanças climáticas; nenhum deles exige a extinção do estilo de vida contemporâneo, mas não são estratégias sem risco

Carlos de Mathias Martins
29 de julho de 2024
Uma solução de engenheiro para o clima
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Nova York sitiada

Enquanto os mandatários globais se reúnem na cúpula do clima que antecede a 74ª Assembleia Geral da ONU em Nova York, a Terra observa o maior Dilema do Prisioneiro desde que o primeiro procarionte apareceu na Groenlândia. O impasse é elementar: o clima do nosso planeta reage à concentração de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera terrestre emitidos, no agregado, por todas as nações do globo. Consequentemente, agindo de modo a maximizar sua posição individual, países têm incentivo em descumprir seus compromissos de redução de emissões. Mais especificamente: se a França reduzir galhardamente suas emissões de GEEs em 100 unidades e o Brasil aumentar egoisticamente suas emissões de GEEs em 100 unidades, a probabilidade de ocorrência de enchentes no Rio Sena não se altera. BAZINGA!

Houston, we have a problem

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima da ONU (IPCC), considerado por muitos o maior esquadrão multidisciplinar já arregimentado para estudar um problema específico desde o big bang, a humanidade tem aproximadamente uma década para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, ou GEEs, em pelo menos 50%. 

Ainda segundo o IPCC, para evitar uma provável emergência climática, as emissões liquidas de GEEs derivadas de atividades humanas teriam que chegar a zero em 2050. Caso esses cenários de redução de emissões não se realizem, o aumento da temperatura da Terra provocaria consequências brutais para os habitantes do nosso planeta. Na mesma linha, grupos ambientalistas assumem premissas ainda mais radicais e demandam emissão zero já em 2025. A alternativa, segundo estes coletivos rebeldes vítimas da síndrome de Estocolmo é axiomática: _hasta la vista, baby_ para nossa civilização. 

Você não precisa ser negacionista do clima para duvidar de teorias que preconizam a extinção da humanidade. Sobretudo se você acredita na ciência que conseguiu pousar uma espaçonave na Lua utilizando um computador de bordo com capacidade de processamento de dados igual a de uma calculadora de padaria. A propósito, o Apollo Guidance Computer foi projetado pelo nosso publisher MIT, o Massachusetts Institute of Technology, sob contrato da Nasa – a qual, por sua vez, garante que as mudanças climáticas são causadas por atividades antropogênicas. BAZINGA!

O engenheiro sempre escolhe a melhor solução

Minha visão de engenheiro financista é objetiva: um evento de cauda longa que pode impactar negativamente a vida de terráqueos desvalidos exige algum tipo de cobertura de risco. Obviamente não estou me referindo a um pagamento por eventual sinistro – nesse caso, todo tipo de catástrofe climática. Minha ideia é avaliar medidas emergenciais que poderiam ser implementadas rapidamente para contrabalançar a concentração de GEEs na atmosfera terrestre. Já falei aqui dos planos A, B e C da Nasa. Agora, nesse contexto, gostaria de propor dois planos controversos, de um engenheiro, mas com potencial para equacionar o impacto das mudanças climáticas no planeta Terra:

  • Plano A: Geração de energia nuclear em larga escala. Aproximadamente 40% das emissões de GEEs têm origem na produção de energia. O fator de emissão na geração da energia nuclear é zero. A energia nuclear tem custo competitivo e prazo de implementação de projetos menor do que uma década.
  • Plano B: Geoengenharia para diminuir os efeitos da radiação solar na superfície da Terra. Embora ainda incipientes e com jeito de ficção cientifica, as tecnologias de geoengenharia são consideradas competitivas em termos econômicos e atuariam na neutralização do impacto da concentração dos GEEs na temperatura da Terra.

Os negacionistas do clima seguramente criticariam ambos os planos acima ou qualquer plano pois segundo eles nenhuma ação é necessária para mitigar o risco de algo que não existe, não é causado pelo ser humano e ninguém sabe quanto vai custar. Por sua vez, os masoquistas do clima, embora sinalizem que o fim do mundo está próximo, preferem apostar na extinção do estilo de vida contemporâneo.

Não existe estratégia livre de risco e as ciladas para os planos A e B acima estão todas armadas. Meu questionamento é no sentido de entender a origem deste comportamento insano de continuar fazendo sempre as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. A tendência de alta das emissões de GEEs per capita pode e provavelmente será revertida com mudanças comportamentais, mas o princípio da precaução formulado pelos anciãos gregos também é axiomático: é melhor estar mais ou menos certo no prazo devido, tendo em mente as consequências de estar errado, do que estar completamente errado e descobrir ser tarde demais para fazer o que é certo. BAZINGA! Crédito da imagem: Shutterstock”

Carlos de Mathias Martins
Carlos de Mathias Martins é engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da USP com MBA em finanças pela Columbia University. É empreendedor focado em cleantech.

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